Antes de cerrar os olhos

        Uma chama trepida em minha mente... É teu rosto, que como brasa fere meus pensamentos.

      Ah, se pudesse calar a voz que grita renitente em meu peito e desprender das lembranças que se emaranham a minha alma insistentes!

    És tu saudade incontida, que me incomoda por noites ávidas, que me desperta o sono e retira a paz fazendo-me prisioneira de lembranças impossíveis e torna a fazer elos com o que jaz morto.

     Ainda que grite "-É loucura!", que me tome por todas as ocupações, mesmo que me pegue em tantos outros causos, ainda sim tua lembrança mora viva em chamas que ardem em meu ser.

  Desde o dia que o destino brincara de tocar nossos caminhos, ascendeu-se como se por malevolencia uma pálida chama, que doravante e com audácia tempestuosa inflamou-se, e por seus rastros aquieceu novamente o meu peito, trazendo a tona tudo que já havia sido sepultado.

     E agora vais embora, rasgam-se os véus, rompem-se os selos.

Vais, porque até o possível é inalcansável.

Vais, porque esqueceste do que tornara-te em mim!

Vais, porque talvez foste apenas sonho meu.

     E quando fores, vais depressa, vais agora pois ainda assim, quando antes de cerrar os olhos palpitas, feres e insistes em ser a última imagem a me perseguir antes d'eu dormir.